**Referência**: Wiegley N, Jhaveri KD, Corona A, So P, Jain K. How I treat glomerular diseases in older adults. CJASN. 2025. \[**[link](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40587222/)**]
###### **Caso clínico**
Dona Maria, 84 anos, hipertensa controlada com anlodipino e com história de câncer de cólon tratado há 10 anos, procura o consultório por edema progressivo em membro0s inferiores. Relata cansaço, discreta lentificação cognitiva e dificuldade em realizar atividades pesadas, mas ainda consegue fazer as tarefas básicas de casa.
**Exame físico**: PA 142/88 mmHg, edema ++/4+ em MMII.
**Exames laboratoriais:**
* Creatinina: 0,9 mg/dl
* Albumina: 2,5 g/dl
* Urina tipo I: proteinúria nefrótica, sem hematúria
* Relação proteína/creatinina urinária: 7,2 g/g
* Anti-PLA2R: positivo (210 RU/ml)
* Complemento normal
**O escore de fragilidade clínica (CFS) foi 5 (fragilidade leve).**
###### **Questão 1**
**Qual a principal hipótese diagnóstica neste caso?**
A) Nefropatia diabética avançada
B) Nefropatia membranosa primária
C) Nefropatia Membranosa secundária
D) Glomeruloesclerose segmentar e focal secundária
✅ **Resposta correta: B – Nefropatia membranosa primária**
**Explicação**: síndrome nefrótica pura, função renal preservada e anti-PLA2R positivo alto confirmam a suspeita.
###### **Questão 2**
Diante da idade avançada e fragilidade (CFS=5), qual a conduta diagnóstica mais apropriada?
A) Realizar biópsia renal imediatamente
B) Dispensar biópsia, usando anti-PLA2R para diagnóstico e monitorização
C) Solicitar ressonância magnética renal
D) Iniciar corticoide em altas doses sem mais exames
✅ **Resposta correta: B – Dispensar biópsia**
**Explicação**: em idosos frágeis, a biópsia pode ser evitada quando há marcador sorológico claro (PLA2R positivo).
###### **Questão 3**
Considerando risco-benefício nesta paciente, qual estratégia terapêutica seria a mais adequada?
A) Pulsoterapia com corticoide + ciclofosfamida
B) Rituximabe em esquema reduzido, com monitorização clínica/laboratorial
C) Ciclosporina por tempo indeterminado
D) Apenas medidas de suporte (IECA/BRA, estatina, diurético), sem imunossupressão
**✅ Resposta correta: B – Rituximabe em esquema reduzido**
**Explicação**: o rituximabe tem eficácia comprovada na membranosa e menos toxicidade que regimes com corticoides/ciclofosfamida.
##### **Vamos explorar agora o artigo**
O grande desafio no idoso com glomerulopatia é equilibrar eficácia versus toxicidade da imunossupressão. O artigo destaca:
* O escore de fragilidade (CFS) deve ser usado sistematicamente. **Pacientes com CFS ≥5 podem se beneficiar de condutas mais conservadoras.**
* Marcadores sorológicos (anti-PLA2R, anti-MPO ou anti-PR3) ajudam a evitar biópsias em idosos frágeis.
* Rituximabe aparece como opção preferencial em várias situações pela segurança em comparação a corticoide/ciclofosfamida.
* O tratamento deve ser ajustado conforme função renal, risco de infecção e cognição.
* Medidas de suporte (RASi, SGLT2i, estatinas, controle pressórico, profilaxia de trombose) são fundamentais em todos os cenários.
**Tabela traduzida – Manejo das Glomerulopatias em Idosos**
(Adaptada de Wiegley et al., CJASN 2025)

###### **Mensagem final do NefroAtual**
O cuidado com glomerulopatias no idoso exige mais do que escolher o imunossupressor: é preciso avaliar fragilidade, cognição, risco de infecção e preferências do paciente.
A prática deve ser individualizada e compartilhada, equilibrando risco e benefício.
###### **Escore de Fragilidade Clínica (CFS) – versão resumida**
**Ele varia de 1 a 9:**
1. Muito apto – saúde excelente, ativo e enérgico.
2. Apto – sem doença ativa significativa, mas menos vigor do que o nível 1.
3. Gerenciamento bem – doenças bem controladas, não regularmente ativo.
4. Vulnerável – não dependente, mas sintomas limitam atividades mais complexas.
5. Fragilidade leve – dependência em atividades instrumentais (ex: preparar refeições, usar transporte).
6. Fragilidade moderada – precisa de ajuda em atividades básicas (ex: banho, vestir-se).
7. Fragilidade grave – dependente para atividades pessoais, mas estável.
8. Muito frágil – totalmente dependente, próximo ao fim de vida.
9. Terminal – expectativa de vida \< 6 meses.
**📌 Na prática nefrológica:**
O artigo sugere usar CFS ≥5 como ponto de corte para considerar condutas menos agressivas.
Em idosos com CFS 1–4, ainda se pode indicar imunossupressão completa, mas com cautela
👉 Você já utilizou o escore de fragilidade (CFS) para decidir entre imunossupressão e tratamento conservador nos seus pacientes idosos?
A versão original pode ser acessada gratuitamente no Canadian Geriatrics Society:
**Clinical Frailty Scale – versão oficial ([link](https://www.dal.ca/sites/gmr/our-tools/clinical-frailty-scale.html)):**