A obesidade é hoje um dos grandes obstáculos para o acesso ao transplante renal. Muitos centros aplicam cutoffs de IMC (≥35–40 kg/m²) como critério de exclusão, obrigando pacientes a perder peso para entrar na lista. A cirurgia bariátrica metabólica (SBM) surge como uma estratégia efetiva para viabilizar o transplante e melhorar comorbidades.
📚 **Referência**: Kukla A, Cohen RV, Friedman AN. Am J Kidney Dis. 2025. **\[[link](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40835154/)]** 🔗
##### **O que esse artigo apresenta de importante para o Nefrologista?**
Impacto da obesidade: aumenta risco de complicações pós-transplante, incluindo perda de enxerto, complicações cirúrgicas e cardiovasculares.
SBM como solução: promove perda sustentada de peso (>20%), melhora diabetes tipo 2, hipertensão, apneia do sono e reduz risco cardiovascular.
Indicações principais: candidatos com IMC ≥35 kg/m², especialmente com comorbidades associadas. Em DM tipo 1 com falência renal, pode viabilizar transplante simultâneo pâncreas-rim.
##### **Confere esse fluxograma sugerido pelo artigo:**

##### **Quais os procedimentos preferidos?**
* Sleeve gástrico (SG): mais seguro, menor risco de complicações e de malabsorção de imunossupressores.
* Bypass gástrico em Y de Roux (BGYR): reservado para casos de obesidade grave ou DM2 refratário, porém possui risco potencial de nefropatia por oxalato e cálculos renais.
##### **Quais os riscos e benefícios da cirurgia bariátrica?**

**Efeitos adversos a monitorar:** perda de massa muscular, hipotensão, deficiências nutricionais, doença óssea, risco de nefrolitíase e injúria renal aguda no pós-operatório.
##### **Riscos e benefícios em situações específicas:**
###### **1. Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS)**
**Benefícios**:
• Redução significativa da pressão arterial, permitindo ajuste/retirada de anti-hipertensivos.
• Controle de hipertensão resistente, comum na DRPAD e DRC avançada.
**Riscos**:
• Hipotensão sintomática no período de rápida perda de peso (20–25% dos pacientes).
• Dificuldade no manejo de volume durante diálise devido a quedas pressóricas.
###### **2. Diabetes Mellitus (DM)**
**Benefícios**:
• Até 30% dos pacientes podem suspender medicações antidiabéticas.
• Remissão parcial/total do DM2, com melhora da resistência insulínica.
• Facilita candidaturas a transplante pâncreas-rim em DM1 e DM2 selecionados.
**Riscos**:
• Hipoglicemias pós-cirurgia, principalmente após CBRY.
• Alterações da farmacocinética da insulina e dificuldade de monitoramento glicêmico na DRC (HbA1c pouco confiável)
###### **3. Doença Óssea e Mineral**
**Benefícios**:
• Possível redução da inflamação sistêmica e melhora indireta no metabolismo mineral.
**Riscos**:
• Redução da densidade mineral óssea após MBS, mais acentuada no RYGB.
• Maior risco de fraturas, deficiência de vitamina D, cálcio e hiperparatireoidismo secundário.
• Necessidade de suplementação rigorosa e monitoramento de PTH, vitamina D e DEXA.
###### **4. Fragilidade e Sarcopenia**
**Benefícios**:
• Melhora potencial da função cardiovascular e capacidade física em longo prazo.
• Redução do risco metabólico global para o transplante.
**Riscos**:
• Perda acentuada de massa magra e força nos primeiros meses (catabolismo + dieta restritiva).
• A fragilidade pode neutralizar os benefícios do peso perdido e até retardar a elegibilidade para transplante.
• Exige intervenção precoce com nutrição proteica adequada e incentivo à atividade física.

###### **Conclusão**
A cirurgia bariátrica metabólica é uma ponte estratégica para viabilizar o transplante renal em pacientes obesos, com potencial de reduzir complicações e melhorar a sobrevida. A decisão deve ser individualizada, guiada por equipe multidisciplinar e com seguimento rigoroso.